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Um mês após a dramática rutura e o início de uma “guerra” petrolífera entre a Rússia e a Arábia Saudita, assistiu-se a um acontecimento histórico no passado Domingo com um novo acordo alcançado pela OPEP + (nova designação) onde vários países se comprometeram em reduzir 9,7 milhões de barris de crude por dia (mbpd)
Esta redução de 10 milhões de bpd de petróleo é o maior corte alguma vez acordado na história da OPEP e o montante equivale a 10% do fornecimento mundial de petróleo. No entanto, será este acordo suficiente para reequilibrar o mercado petrolífero e ajudar as economias produtoras a evitar problemas?
O Novo acordo de petróleo da OPEP +
Vários acordos similares foram celebrados no passado, tendo já sido abordados num dos nossos artigos – podem ser consultados aqui. No entanto, este acordo é especial devido aos volumes, urgência e importância do mesmo.
Após uma maratona de quatro dias, a 10ª Reunião (Extraordinária) Ministerial da OPEP e não-OPEP, realizada no dia 12 de Abril através de videoconferência, culminou com o acordo, entre os países participantes, das seguintes reduções:
- 9,7 mbd, a partir de 1 de Maio de 2020, por um período inicial de dois meses que termina a 30 de Junho de 2020;
- 7,7 mbd, de 1 de Julho de 2020 a 31 de Dezembro de 2020;
- 5,8 mbd de ajuste por um período de 16 meses, de 1 de Janeiro de 2021 a 30 de Abril de 2022.
A linha de base para o cálculo dos ajustes correspondeu aos níveis de produção de petróleo de Outubro de 2018, à exceção do Reino da Arábia Saudita e da Federação Russa, ambos com o mesmo nível de base de 11,0 mbd. O acordo será válido até 30 de Abril de 2022, no entanto, a extensão deste acordo será revista em Dezembro de 2021.
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Tabela 1 – Níveis de redução por país (mbpd).
Impacto no mercado atual
Os preços do petróleo caíram para mínimos históricos em Março, depois da Arábia Saudita e a Rússia falharem o acordo sobre novos cortes na produção de crude e terem iniciado uma guerra de volume para ganharem quota de mercado, arrastando os preços do petróleo Brent para 22,76 $/bbl, uma queda de 68% face aos níveis máximos registados em Janeiro.
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Figura 1 – Preços Brent M+1 ($/bbl). FONTE: MTECH
Apesar da guerra de volume entre o segundo e o terceiro líder mundial, o Mundo enfrenta atualmente uma batalha mais importante contra a pandemia COVID-19, que se espalhou por todo o Globo e é responsável por mais de 1,8 milhões de pessoas infetadas (registadas) e 115 mil mortes nos últimos quatro meses.
A atual pandemia forçou os governos a aconselhar 40% da população mundial a permanecer em casa, causando importantes reduções no turismo e nas viagens, bem como nas atividades industriais na maioria dos países, com consequentes ondas de despedimentos e lay-offs. A última previsão do EIA revela uma queda significativa entre Março e Junho, com o valor mínimo da procura mundial a ser atingido neste mês de Abril a 83.61 mbpd, correspondendo a uma queda de 20% da procura média mundial (ligeiramente acima dos 100 mbpd).
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Figura 2 – Oferta mundial de petróleo vs Procura mundial de petróleo (mbpd). FONTE: Reuters
Este último relatório parece ter subestimado o impacto do vírus e a velocidade da sua propagação, uma vez que notícias recentes apontam para uma queda da procura de petróleo na ordem dos 30 mbpd (30% da oferta global de petróleo), mais10% do que a última projeção.
Por outro lado, o armazenamento de petróleo está a encher-se rapidamente em todo o Mundo, motivado pela fraca procura e pelos elevados níveis de produção de crude. De acordo com dados recentes da Agência Internacional de Energia, as estimativas apontam para 2,9 mil milhões de barris de armazenamento da indústria e 1,5 mil milhões de barris de armazenamento governamental na OCDE à data de Janeiro de 2020. O último recorde foi registado em Julho de 2016 com um máximo de 3,1 mil milhões de barris, pouco depois do fim da última queda dos preços – o que significa que os níveis reportados em Janeiro já estavam 200 milhões acima do último pico. Outras fontes apontam para 71% da capacidade mundial já se encontra preenchida, existindo espaço para 0,9 a 1,8 mil milhões de barris.
Só nos EUA, as reservas de petróleo aumentaram 13,8 e 15,2 milhões de barris nas últimas duas semanas, devido ao impacto do COVID-19 nos EUA.
Acordo de produção global à vista
Um dos maiores entraves a este acordo foi o facto dos E.U.A. não assumirem o compromisso com quaisquer cortes voluntários, algo que foi amplamente exigido pela Rússia e pela Arábia Saudita e que era compreensível, uma vez que os três lutam pelo primeiro lugar como produtor de petróleo. No entanto, o acordo foi alcançado pela OPEP + usando a crise global como argumento para incentivar outros não-membros do Cartel a juntarem-se e a fazerem um esforço conjunto para reequilibrar o mercado petrolífero.
Entre eles, a Noruega e o Canadá já mostraram a sua vontade de participar, desistindo de parte da sua produção, mas ainda não foram declarados números oficiais.
Os E.U.A. optaram por manter o argumento usado durante as negociações: a produção nacional já prevê uma redução de 2 milhões de bpd até ao final de 2020 devido à situação atual. Mas, numa jogada inesperada, Trump disse que os E.U.A. concordaram em ajudar o México a cumprir um corte adicional entre 250 mil a 300 mil barris por dia, de forma a que o pais latino alcançasse as quotas de redução atribuídas a todos os participantes além dos já comprometido 100 mil bpd.
Isto é a sério?
O sector do petróleo e do gás natural está provavelmente a enfrentar a maior crise de sempre e a OPEP+ terá que contar com fatores alheios para tentar alcançar o impacto desejado com acordo em vigor.
O verdadeiro impacto do COVID-19 continua a ser um enorme incógnita e está a atingir todas as economias do mundo em simultâneo. A forma como cada uma e todas responderão a esta crise sanitária ditará os próximos meses e como o Mundo se recuperará.
Se adicionarmos os cortes esperados (acordados) à curva de oferta mundial das últimas projeções da EIA (em verde), poderíamos verificar um rápido reequilíbrio do mercado, apontando mesmo para uma potencial escassez já no 3º trimestre de 2020 (linha cinzenta contra a verde). Mas é importante destacar que os atuais níveis de baixa procura (30% abaixo do normal) podem persistir e alterar a evolução da procura, alterando também a recuperação ao longo do ano.
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Figure 3 – Oferta mundial de petróleo vs Procura mundial de petróleo (mbpd). FONTE: Reuters
Também o impacto económico dos atuais confinamentos e das abordagens de «ficar em casa» ainda está por aferir corretamente, uma vez que não podemos esquecer que se tinha evitado uma recessão há três meses atrás, o que significa que a economia já estava «debilitada» antes do aparecimento da pandemia. Algumas fontes já apontam para uma grande recessão pior do que a crise financeira de 2008.
A curva “V” (a cinzento) projetada para a procura sugere uma rápida recuperação da economia e da própria procura relativamente à atual crise sanitária. Mas se, porventura, a realidade for mais difícil e a recuperação mais lenta, poderemos assistir não a uma curva “V” mas possivelmente a uma em forma de “U” ou mesmo em “W” causando um impacto significativo na procura do petróleo e, consequentemente, no sucesso do atual acordo. Um período mais prolongado de procura reduzida, abaixo dos níveis acordados pela OPEP +, manteria os preços atuais do petróleo mais baixos do que o desejado e pressionaria todos os países que dependem dessa commodity.
Mais focado no setor do petróleo, este novo acordo pode ser importante para controlar e gerir a atual situação de armazenamento de crude, o que poderá trazer algum otimismo aos preços do petróleo e ajudar as «economias de produtores de petróleo» a alcançar a “safety net”.
As opiniões dividem-se sobre a próxima tendência dos preços do petróleo, algumas mantém-se confiantes de que o acordo OPEP+ é insuficiente para reequilibrar a situação atual de sobre-oferta e que o mercado voltará a atingir os 20 $/bbl, outros acreditam no otimismo do sinal de compromisso deste acordo e acreditam que o mercado irá estabilizar. Quanto às perspetivas de médio e longo prazo, mais do que o nível de compromisso da Arábia Saudita e da Rússia, os próximos passos para combater ou ultrapassar a pandemia COVID-19 serão fundamentais para dar um sinal claro aos mercados do oil & gas.
Haverá um mundo diferente após esta pandemia do COVID-19 e o impacto será vasto. Além da economia e da saúde, as pessoas poderão mudar os seus hábitos, bem como a maneira de socializar, ou até trabalhar, o que poderá impactar a procura de petróleo e alterar o atual nível de referência de 100 milhões de barris por dia.
Ainda assim, os níveis desejados de 50 a 60 $/bbl parecem intangíveis num futuro próximo.
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